quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Relato de Parto





É incrível, porque tudo aconteceu tão rápido, mas tem tanta coisa pra contar que já vou avisando, esse post vai ser longo hehe


Dia 02 de Setembro de 2011

23:00
Comecei a sentir dores logo que deitei para dormir. O Diego dormiu, e eu fiquei deitada, pensando que ia passar. Já tinha sentido algumas dores no dia anterior, mas pararam depois do banho e eu pensava que fossem gases ou dor de barriga, algo assim. Tentei dormir, mas as dores voltavam toda hora.

02:40
A partir desse horário comecei a perceber que podia ser algo, talvez pródomos, mas achava estranho pois as dores eram somente na parte de baixo da barriga, e sempre ouvi falar que doía a lombar e tudo mais. Comecei a anotar em um aplicativo do Ipod toda vez que a dor vinha e percebi que o intervalo era de 8 min a cada dor, e que duravam aproximadamente 1 min. Mas mesmo assim, não achava que era a hora.

03:50
Estava anotado as dores no aplicativo e de repente aparece uma mensagem: Você atingiu o limite de contrações permitido. Para continuar utilizando, adquira o programa completo". Fiquei com tanta raiva na hora. Que porcaria de aplicativo, quer dizer, eu tenho 10 contrações pro bb nascer, senão se vira na hora, sem internet e tal. Comecei a contar no bloco de notas, e percebi que os intervalos estavam diminuindo, a cada 7 min. Mas mesmo assim achei q não era nada. Dormia depois da dor e acordava quando vinha a outra, anotava e dormia de novo.

6:36

Percebi que não tinha passado a dor e nessa hora o Diego acordou para ir trabalhar. Eu disse que estava com dor, mas como não sabia se era a hora ainda disse que era para ele ir trabalhar que eu ia tomar um banho, que talvez a dor passasse, senão eu ligava pra ele. As dores estavam completamente suportáveis, nada demais, então pedi pra ele me dar uma benção (Sou membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Ultimos Dias) e pedir que, se fosse para o bebê nascer, que as dores continuassem e que tudo ocorresse bem, mas se não fosse nascer hoje, que as dores parassem.

A partir desse momento, aconteceu tudo muito rápido e foi tudo tão certo, parecia coisa de filme, onde as histórias aconteciam ao mesmo tempo, e no final se encontravam. Vou contar como foi com cada pessoa e no final deu certo:

Thais (Enfermeira Obstetra) examinando a Lara (Ela fez o primeiro xixizão no berço aquecido)

Jessica
Fui para o banho e fiquei mais ou menos uma hora. Mas nada da dor passar. Fui deitar mais um pouco e pensando no que me disseram na Casa de Parto, que deveria ir para lá quando estivesse com intervalo de 5 min por uma hora pelo menos. Estava com intervalo de 6 min, então fiquei esperando.

Diego
Saiu para o trabalho

Alexandre (amigo do Diego)
Acordou e resolveu que iria levar a esposa no trabalho e depois ficaria com o carro (ela sempre fica com o carro), e iria para trabalhar, decidiu ir visitar uma obra no Pacaembú.

8:00
Jessica
Decidi que iria em um hospital ver o que eram as dores, se eram realmente contrações ou apenas uma dor qualquer (coisa de mãe de primeira viagem hehe). Liguei para os meus pais, e a essa altura estava com os intervalos meio bagunçados, algumas eram a cada 4, ou 5, as vezes 6, era meio dificil, não estava super regulado, então não achei que fosse a hora.

8:40
Jessica
Meus pais chegaram e decidimos que iriamos para o hospital do convenio ver o que era antes de ir até a Casa de Parto (Em Sapopemba, moro na zona norte, um pouco longe), estava com medo de chegar lá e não ser nada, me mandarem de volta para casa.

9:00
Jessica
Chegamos no hospital, mas quando fui atendida pela médica, disse que não tem ginecologista lá, e nem maca ginecológica, portanto iria cronometrar e se eu tivesse mais de 3 dores, com pelo menos 50 seg cada em 10 min, eu estaria realmente em trabalho de parto. Deitei e em 5 min tive 3 dores. Ela disse para eu ir para a maternidade, perguntou se eu queria uma ambulância e me desejou um bom parto hehe. Como meus pais estavam me esperando e eu pretendia ir para a Casa de Parto, não quis a ambulancia.

9:30

Jessica
Saí do hospital e meu pai tinha ido no pão de açúcar comprar coisas para comer. Comprou todinho e salgados para comermos no caminho, pois a viagem era longa hehe. Minha mãe ligou para os meus irmãos e disse que estavamos indo para a Casa de Parto e eles logo publicaram no Facebook que a Lara podia nascer logo. Nessa hora, as dores estavam a cada 4 min.

Diego
O Diego estava no trabalho, mas um pouco preocupado com o que estava acontecendo em casa. Como estava tranquilo no trabalho, resolveu entrar no Facebook e viu que eu estava indo para a Casa de Parto. Conclusão, ficou desesperado, tentava ligar no meu cel e não conseguia.

Papais babões
10:00

Jessica
Fomos a caminho da CPS (Casa de Parto de Sapopemba) e estava um super transito na Anhaia Mello. No caminho eu com dor a cada 4 min e um pouco sem posição sentada no banco de trás, meu pai, que sempre dirige como um louco, resolveu que não estava com pressa e dirigia tranquilamente, parando para comprar suflair com os carinhas da rua e sorvete de iogurte.

Diego
Depois que não conseguiu falar com ninguém (tentou meus 2 irmãos, meus pais, o irmão dele, TODOS na caixa postal) saiu do trabalho e decidiu ligar para a Monica, colega de trabalho e mãe do Alexandre e ela ligou para o Alexandre, avisando que o bebê estava nascendo e tal. Pegou o onibus para ir para casa, pegar o nosso carro e ir para a Casa de Parto com os meus irmãos (o Keny e a Talita), mas estava com medo de não dar tempo de chegar.

10:30

Jessica
Cheguei na CPS com dores a cada 3/2 min e tinha uma outra gravida chegando junto comigo. Perguntaram se eu tinha consulta e eu disse que não, tinha ido pois estava com dor. A outra moça também, mas como eu entrei na recepção antes dela, foram me examinar primeiro (ainda bem, ela tava com 5 cm).
Pediram para eu deitar na maca, e a Thais, enfermeira obstetra (também gravida de 8 meses) fez um toque. Na hora ela fez uma cara de espando e disse para a auxiliar rindo: "Ela tá com 9 cm!!!"
Disse para eu ir para o chuveiro e sentar na bola para dilatar o ultimo centimetro que faltava, disse para eu relaxar, que a bolsa ainda não tinha sido rompida ainda e que estava tudo bem. Disse também que eu tinha que aproveitar para sentir o meu corpo, sentir as contrações e me concentrar em relaxar o ventre e o perineo. Incrível como ela é tranquila e traz uma sensação na gente de que tá tudo bem hehe.

primeira refeição após 2h o parto e titio babão.

11:00

Jessica
A partir desse momento quase não olhei no relógio, nem lembrei de ver que horas eram, mas pelas minhas contas foi mais ou menos assim.
Estava na bola, sentada debaixo do chuveiro, e as dores foram se distanciando mas foram ficando mais fortes. Minha mãe entrou comigo no quarto e ficamos lá conversando, atendendo as diversas ligações, e ela me ajudando. A cada 20 min vinha uma auxiliar perguntar se estava tudo bem, e eu estava tranquila.

Alexandre
Ligou para o Diego para parabenizar e tal, e descobriu que o Diego estava no trabalho, sem ter como ir para a Casa de Parto. Então ele perguntou onde o Diego estava, e ele disse que estava na Av. Pacaembú. Espantosamente e coincidentemente, o Alexandre também estava na Av. Pacaembú, o Diego desceu do onibus e na outra quadra estava o Alexandre. (isso foi incrivel)

12:00

Jessica
Estava no chuveiro e de repente a água parou de sair. Queria ter ido para a banheira mas não estava esquentando). Então coloquei a camisola da CPS e fui andar pelo quarto. Fora do chuveiro as dores eram muito maiores, mas continuavam mais distantes uma da outra. A auxiliar apareceu e disse que se eu sentisse vontade de fazer cocô, que eu avisasse a enfermeira, e não fosse ao banheiro. Continuei andando no quarto e quando vinha a dor eu ia para a barra, para a cama, ficava de cocoras, tentava várias formas para saber quais eram as posições melhores para aguentar as dores.

Diego e Alexandre
O Alexandre perguntou para o Diego a caminho da casa de parto:
Alexandre -Você já almoçou?
Diego - Não, ainda não.
Alexandre - Vamos comer então?
Diego - Mas será que dá tempo?
Alexandre - Ah dá, essas coisas demoram, vai ser só daqui umas 8 horas.
Diego - Então tá bom.
Conclusão: Os dois para a churrascaria comemorar que o bebê estava nascendo. (Os dois se acabando na picanha e eu me acabando nas dores)

primeiro banho (papai que deu)

13:00

Jessica
Comecei a sentir vontade de ir no banheiro. Mas não podia ir, ainda bem que tinha ido muito ao banheiro no dia anterior, umas 6 vezes mais ou menos. Subi na maca, mas não conseguia ficar deitava. Estava cansada e queria muito dormir entre as dores, mas já não dava tempo. Nessa hora a Thais apareceu e fez um toque. Disse que estava quase nascendo e que iria trocar de roupa e já voltava. Disse que estava tudo bem e para eu me concentrar no meu corpo, pensar nas dores quando elas viessem e sentir cada lugar que doía, onde eu tinha que concentrar a dor, e pensar que logo logo a Lara estaria chegando. E o Diego não chegava, eu pensando que ia pedir que a Thais rompesse a bolsa quando ele chegasse, e também pensando que talvez não desse tempo dele chegar, minha mãe o tempo todo comigo. Até disse para a minha mãe que se ela quisesse esperar do lado de fora, por mim tudo bem, pois ela ficava com uma cara de quem estava com muita dó quando eu sentia uma contração, mas ficava do meu lado.

Diego
Saíram da churrascaria e estava indo para a Casa de Parto, mas estavam um pouco perdidos. O Alexandre disse que sabia ir para Sapopemba, e nós explicando pelo celular, teve uma hora que minha mãe saiu da sala e até eu atendi o celular para explicar. Ainda bem que não foi durante uma dor.

13:30

Jessica
Thais voltou com a roupa pronta e eu estava no meio de uma contração quando ela chegou. Só vi ela ligando o radinho com uma musica meio de ninar, nem me lembro bem, disse para eu ficar com a barriga para cima que seria mais facil (estava de lado), e uma das auxiliares começou a montar a cama na velocidade da luz, enquanto a outra fazia carinho na minha barriga conversando com a Lara, falando pra ela sair e pra eu ficar tranquila.

Diego
Chegou logo depois da Thais entrar na sala e ficou espantado com o meu rosto, eu estava no meio de uma contração. Na hora que ele chegou eu o chamei para segurar a minha mão e ele ficou ao meu lado o tempo todo. Minha mãe, morrendo de medo de ser expulsa da sala quando o Diego chegou ficou quietinha só olhando enquanto todos iam se movimentando.

14:40
A bolsa rompeu e a Thais me disse que teria que fazer episiotomia (corte no períneo), pois estava muito tensa e o parto poderia demorar demais e causar sofrimento no feto. Logo comecei a entir vontade de fazer força. Eu fazia força nas contrações e tentava descansar nos intervalos, mas estavam mais curtos agora. A dor era infinitamente mais forte do que no início e comecei a sentir que agora era a hora que eu precisava agir. Não adiantava eu esperar como foi antes, agora eu precisava participar. Não era só aguentar a dor, era o "trabalho" de parto mesmo, eu precisava trabalhar, pois a minha bebezinha já estava trabalhando faz tempo.

Pensava comigo:" Dor não é sofrimento" e fazia força, mas ainda assim não achava que fosse conseguir. Pensei comigo "por isso a mulherada quer anestesia", e chorava um choro sem lagrimas, apenas sentindo tudo e tentando pensar que logo logo tudo ia acabar. Depois de umas 3 contrações lembro de ter falado que não ia conseguir, que a força era em vão (achava que depois da força o bebê voltava pra dentro, mas a Thais disse que não).

Depois do primeiro banho

Então, com mais duas contrações, senti algo muito forte, uma queimação, uma sensação que só poderia ser descrita realmente como "circulo de fogo". Não tem outro nome para explicar, mas na hora nem pensei. Só sentia que estava quase acabando que que era agora a hora. Fiz uma força master e a cabecinha saiu. Com 5 contrações do explulsivo ela saiu e, segundo minha mãe (que não acreditava que a cabeça ia conseguir sair por aquele buraco) depois q saiu a cabeça o corpinho escorregou para fora hehe. Logo que saiu senti q nada havia acontecido, senti um alivio muito grande e colocaram ela direto no meu colo. O cheirinho não era dos mais agradaveis na hora, mas agora sinto saudades daquele momento. Ela toda enrugadinha e suja no meu peito, com os olhinhos abertos e sem chorar, só limparam com uma toalha.

A primeira coisa que pensei foi "era só isso e doeu tanto?" hehe Ficamos um tempo juntas, nem sei quanto. Só me lembro de ter perguntado: "alguém anotou o horário q ela nasceu?" hehe, tanta coisa acontecendo e eu preocupada com o horário que ela havia nascido. Nasceu as 14h, cheia de saúde, Apgar 9 e 10, e toda lindinha, com nariz empinado. Depois de um tempo levaram para a sala da enfermagem e meu marido foi junto, fiquei com a Thais e ela começou a dar os pontos necessários.

Depois de ter terminado os pontos, veio a contração da placenta. Foi uma sensação estranha, aquela coisa quente e mole saindo, e deu muita vontade de fazer força na hora, embora a Thais tenha falado para não fazer. Fiquei com medo de sentir a mesma dor do parto, mas saiu fácil. Infelizmente meu útero não estava contraindo e tive um sangramento acima do comum. Me deram injeção de ocitocina depois do parto para diminuir o sangramento.

Fui colocada na cadeira de rodas para mudar de quarto e eu me senti uma inválida. Mas fizeram isso pq estava muito fraca por ter perdido muito sangue. Depois que as outras duas mamães que haviam parido no mesmo dia chegaram andando, fiquei morrendo de vergonha hehe.

Considerações

  • Me arrependo de não ter feito exercícios para o períneo. Talvez evitasse a episio que me incomodou tanto no pós parto.
  • Acho que não cheguei à Partolândia. Sinto que faltou um pouco, talvez pela preocupação de meu marido não chegar a tempo pro parto, talvez por medo, não sei. Espero que no próximo parto eu consiga relaxar mais e me concentrar só no parto.
  • ADOREI ter parido na CPS. Se no próximo filho não tiver como fazer um parto domiciliar, terei novamente em uma Casa de Parto. O atendimento é SUPER humanizado, a gente se sente acolhido, como se estivesse em família.
  • Também me arrependo de não ter feito os exercícios do livro "Parto Ativo". Sinto que teriam me ajudado muito na hora das contrações.
  • A mulherada da lista materna do Yahoo me ajudou muito, aprendi demais com outras mulheres empoderadas e suas experiencias de parto.
  • Ainda quero tentar um parto na água (na CPS a banheira não estava esquentando).
  • Foi muito bom ter minha família comigo durante o parto, mesmo sem poderem estar comigo na sala de parto. Suas orações realmente funcionaram, assim como a bênção que pedi ao meu marido antes de sair. Sei que foi com auxílio divino que tudo ocorreu tão bem e agora tenho uma bebezinha super saudável comigo, que não sofreu em hospital.
  • Agradeço por ter descoberto a CPS e por não ter ido para o hospital.
  • Agradeço por não ter sido amarrada, dopada, furada, ter a barriga cortada, aspirada e depois costurada.
  • Agradeço por não ter q ver minha filha no aquário, por não ter sido aspirada, por ter sido tratada com respeito durante todo o tempo em que ficou aos cuidados do pessoal da Casa de Parto, sempre acompanhada pelo meu marido.
Tive um parto lindo, e não me arrependo de ter escolhido a forma mais natural possível para o primeiro encontro com minha pequena.


"...se pudéssemos imaginar um parto acompanhado verdadeiramente, com liberdade de movimento, na data verdadeira (ainda que “se atrase”), em intimidade, com uma ou duas pessoas do círculo mais íntimo, a dor seria então o veículo para o recolhimento, para a introspecção, para sair do mundo das formas e entrar no mundo sem limites, sem palavras, sem luzes... é um momento de abertura de consciência. Assim a dor é suportável, é necessária, porque nos permite “sair” do mundo racional, e só fora do mundo racional se pode parir em liberdade. As mulheres que parimos verdadeiramente em liberdade, é que podemos contar o que é o paraíso".

Laura Gutman



"A Impostora é a mulher-mãe. Muitas mulheres não permitem essa transformação, e tal qual 'mortas-vivas', seguem sofrendo pela vida "que não têm mais". Mas, diz a lenda, que a mulher que enterra definitivamente aquela que já não é mais, transforma-se na melhor mãe e na melhor mulher de todos os tempos!"

W.N.


Lara Fochetto Quiroga nasceu com 3,040 kg e com 48,5 cm às 14h do dia 02 de Setembro de 2011. O dia em que eu nasci como mãe, como mulher! O dia em que a "impostora mãe" nasceu e a antiga Jessica morreu. Me enterrei e renasci. Sinto que posso fazer qualquer coisa agora, que sou capaz de alcançar o que procuro, de sonhar e conseguir!

Um comentário:

  1. É maravilhoso depois de algum tempo ler esse relato e lembrar dos detalhes desse dia inesquecível

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